Com o frio apertando, bandeirinhas tremulando ao vento e o cheiro doce de milho e amendoim no ar, o Rio Grande do Sul entra no clima das festas juninas. Mas por aqui, os sabores têm sotaque próprio. Enquanto o Norte e o Nordeste exaltam pamonha e canjica, os gaúchos celebram a temporada com cricri, rapadura, cocada, pé de moleque e, claro, pinhão e quentão.
Esses itens, simples e rústicos, não são apenas comida: são memória, tradição e identidade. Servidos em festas de colégio, salões de igreja, CTGs e arraiais comunitários, eles têm o poder de reunir gerações em torno de mesas fartas e conversas aquecidas.
Além disso, por ocorrerem no inverno, as festas juninas acabam sendo um convite à comida quente, doce e reconfortante, ideal para os dias mais frios.
Mais do que guloseimas, esses doces carregam histórias, memórias e raízes da cultura popular brasileira, especialmente das regiões interioranas. Com ingredientes simples, muitos vindos diretamente da roça, eles conquistam não só pelo sabor, mas pela tradição que representam.
Os doces mais tradicionais da Festa Junina
Cricri: o crocante que mora na infância
Poucos doces são tão gaúchos quanto o cricri. Feito com amendoim caramelizado no açúcar até formar uma casquinha crocante e avermelhada, ele é presença certa nas festas juninas do Sul. Simples, barato e viciante, é vendido em saquinhos nas festas e também nas ruas — e para muitos, tem gosto de infância e calor de fogueira.
Pipoca: a simplicidade que conquista
E, por fim, ela: a pipoca. Sem frescura e sem erro. Estourada na a ou no tacho de milho seco, com sal ou com açúcar caramelizado, a pipoca é o lanche democrático que atravessa gerações. Barata, rápida e sempre bem-vinda, aparece em saquinhos, baldes ou em potes improvisados. Em qualquer festa junina gaúcha, se não tem pipoca, falta alguma coisa.
Rapadura: a energia da terra
Vinda das raízes mais rurais do Brasil, a rapadura tem uma força simbólica e nutricional impressionante. Feita a partir do caldo de cana-de-açúcar fervido e moldado em blocos, ela é doce e potente. No RS, é muito comum encontrar a rapadura sendo quebrada em pedacinhos e servida junto com o quentão, como petisco típico das festas de junho e julho.
Cocada: coco e afeto
A cocada, feita com coco ralado e açúcar (às vezes com leite condensado), também tem seu lugar garantido nos festejos juninos gaúchos. Seja a branca, a dourada ou a “queimada”, ela é um doce que une textura e sabor com aquele ar caseiro que aquece o coração no inverno.
Pé de moleque: firmeza e sabor
De origem nordestina, o pé de moleque foi adotado de braços abertos pelos gaúchos. Feito com amendoim inteiro e açúcar caramelizado — ou rapadura —, tem uma textura dura e sabor marcante. Nas festas juninas do Sul, é presença certa nas mesas, ao lado do cricri, compondo a “dupla sertaneja” do amendoim.
Pinhão: o rei do inverno
Embora não seja doce, o pinhão é um dos símbolos mais fortes da estação. Cozido na a de pressão ou assado direto na brasa da fogueira, ele é oferecido como petisco e também como sobremesa, com açúcar e canela. Nas festas juninas, não pode faltar uma a fumegante com os frutos da araucária sendo servidos de mão em mão.
Quentão: o gole que esquenta corpo e alma
E, claro, nenhuma festa junina no RS está completa sem o quentão — a bebida quente feita com vinho tinto, açúcar, cravo, canela e casca de laranja. Além de aquecer os ossos no rigor do inverno gaúcho, o quentão cria clima de confraternização e é sempre servido com muito cuidado, especialmente entre os adultos.
Muito mais que doces
Essas receitas encantam por mais do que o sabor. Elas fazem parte da memória afetiva de gerações, criam vínculos entre pessoas e reforçam a identidade regional. Em tempos de vida corrida, a Festa Junina e seus doces nos convidam a desacelerar e saborear, com calma, os gestos simples e cheios de amor.
Tradição que aquece o coração
Os doces típicos das festas juninas no Rio Grande do Sul têm algo em comum: a simplicidade feita com alma. São sabores que não precisam de firulas para fazer sucesso — basta um bom fogo, bons ingredientes e uma boa roda de conversa ao redor da mesa.
Mais do que guloseimas, são expressões culturais, que unem famílias, aquecem corações e sustentam a identidade do povo gaúcho mesmo nas noites mais geladas do ano.
Porque festa junina, aqui no Sul, é feita com sabor de verdade. Ao redor da fogueira, com um prato de pé de moleque ou um copo de canjica quente, o brasileiro celebra não apenas os santos juninos, mas a alegria de estar junto, a força da tradição e o sabor que só a nossa terra tem.